Cachorro pode usar pasta de dente de humano?

Na realidade, como os cães não cospem a pasta de dentes após a escovação, acabam engolindo boa parte do volume utilizado, ou quase todo. As pastas de uso humano apresentam os seguintes componentes básicos:

  • Agentes de Polimento: Sílica, Carbonato de Cálcio;
  • Espumante: Lauril Sulfato de Sódio, Umectante: Sorbitol, glicerina;
  • Espessante: Carboxemetil Celulose, Goma Xanthana, Agentes terapêuticos, flúor, etc.

Destes estaremos analisando os principais:

Flúor

O flúor, além de excelente para prevenir cáries, está descrito na literatura como um agente de intoxicação aguda, podendo provocar sintomas de salivação acentuada, náuseas, dores abdominais, vômitos e diarreia. Em casos de intoxicação mais graves ocorrem astenia, espasmos de extremidades, queda de pressão arterial, fibrilação cardíaca, reflexos hiperativos, convulsões tônico clônicas e óbito por parada cárdeo-respiratória. Na pasta de dente é apresentado em concentrações entre 1000 e 1500 ppm, ou 1 a 1,5 miligramas de flúor por grama de pasta.

Sabendo que a menor dose tóxica do flúor relatada é de 5 miligramas/quilo de peso vivo, no caso mais grave, um cãozinho de 1kg (um bem pequenininho) teria que comer na mesma hora cerca de 10 cm de pasta de dentes (5 gramas) para o início de um processo de intoxicação com o flúor ali contido. Como o recomendado é até 0,5 cm de pasta na escova,
para o caso mais grave, nosso cãozinho de um quilo, a relação entre dose eficaz e dose tóxica inicial é de 20 vezes.

Esta dose (0,5 cm) se aproximará apenas da dose tóxica de um cãozinho de 200 gramas. Para cães maiores, esta taxa de segurança será crescente. A dose letal calculada é de cerca de 15 gramas de pasta por quilo de peso corporal, cerca de três vezes a dose tóxica.

Sabão

Lauril sulfato de sódio: este é o sabão normalmente encontrado na pasta de dentes. Basicamente é o mesmo sabão utilizado nos xampus de uso doméstico. O sabão é irritante da mucosa gástrica, isto significa dizer que se comermos muita pasta de dentes poderemos fazer uma irritação da mucosa com ânsia e êmese.

Este quadro normalmente se dá agudamente, mas vale a pena lembrar este detalhe: se o animal começar a apresentar problemas gástricos, verificar qual o creme dental é utilizado, e quanto, no entanto, ressalvo aqui que em quatro anos atuando na odontologia veterinária ainda não encontrei o primeiro caso de gastrite química por pasta de dentes, dada a pequena quantidade recomendada.

Agentes terapêuticos

Alguns componentes adicionados aos cremes dentais básicos conferem ações específicas:

  • Bicarbonato de Sódio: Com a função de elevar o pH da boca, neutralizando o efeito dos ácidos produzidos a partir da fermentação dos açúcares ingeridos. Como os animais apresentam saliva mais alcalina que os humanos, seu uso em medicina veterinária é relevado a segundo plano. Tem também efeito de clareamento.
  • Pirofosfato de Sódio: Responsável pelo efeito anti-tártaro, é um removedor químico das placas. Não somente evita a fixação como também remove cálculo.
  • Gantrez: Um estabilizante, fornece ao produto um efeito de longa ação.
  • Triclosan: antimicrobiano — Inibe placa, cálculo e cáries pela redução da flora bacteriana.
  • Peróxido de Cálcio: Oxidante forte, do grupo da água-oxigenada, é utilizado como auxiliar na limpeza e redutor da flora, apresentando efeito anti-tártaro.

Concluíndo

A conclusão de nossos estudos é que embora existam no mercado internacional pastas específicas para cães, podemos utilizar as de uso humano nas seguintes condições:
A dose usual de pasta de dentes por escovação é algo em torno a 0,5 cm, ou seja, de 0,5 a 1 grama.

  • Escovas de dentes: se não as específicas para cães, podemos utilizar as de uso pediátrico humano.
  • Cremes Infantis: Os cremes de uso pediátrico humano, de baixa abrasividade e sabor chicletes, não são os mais recomendados para uso veterinário. O processo que na criança leva 10 anos, o cão realiza em seis meses. Outro fato é que o sabor do creme dental não incentivará a criança escovar os dentes de seus animais de estimação.
  • Líquidos de higiene bucal fluorados: Não são recomendados para cães.

CREMES DENTAIS — VISÃO GERAL: Creme dentais básicos: todos os creme dentais apresentam, por lei, uma taxa entre 1000 a 1500 ppm de flúor. Todos apresentam a mesmo efeito básico de limpeza e higienização oral… Os denominados <<<De ação total>>> São os que contém Triclosan, formam o grupo dos cremes dentais mais completos hoje existentes no mercado mundial. Evitam as placas, formação dos cálculos e halitose.

Anti-tártaro

Peróxidos, Pirofosfato: Existem animais que apresentam uma produção exacerbada de cálculos dentários. Para estes, e após um sério tratamento periodontal, a escovação com este grupo de pastas é bastante recomendado.

Anti-cárie

Com carbonatos, elevam o pH evitando a ação ácida sobre os dentes. Recomendado àqueles, embora todas as orientações, que recebem açúcares em sua dieta (bolos, balas, docinhos, chicletes, etc.). Lembramos que cães e gatos apresentam já a saliva mais alcalina que os humanos, e que cáries não são grandes problemas na medicina veterinária, motivo pelo qual esta classe de pastas de dentes são de importância secundária para os cães.

Portanto, embora existam cremes dentais específicos para cães, podemos utilizar também para esta espécie, os cremes dentais de uso humano, sendo os de <<<ação total>>> os mais recomendados. O mais importante é que no mínimo anualmente, na ocasião do reforço vacinal, um bom exame dentário seja realizado, garantindo a saúde bucal; e a higidez de nossos pacientes.

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