Fique confiante!
O grande chavão da atualidade se tratando de adestramento/comportamento animal é a confiança. Cesar Millan não cansa dizer em seus programas o quão importante é a “energia” que você passa ao seu cão. Outro bom exemplo é o velho bordão brasileiro que diz “não demonstre medo para o cão”.
Trocando em miúdos é o seguinte: Se você não passa confiança para ele o mais provável é que o medo se agrave.
Então se você acha que irá transmitir insegurança, o melhor seria procurar ajuda profissional. Muitas vezes um problema comportamental é em decorrência da energia insegura que você passa.
Nada de carinho ou demonstrações de afeto nesse caso! vou colocar isso em letras garrafais para que eu tenha certeza que você entendeu: NÃO DEMONSTRE AFETO EM CÃES COM MEDO! VOCÊ ESTARÁ REFORÇANDO ESSE SENTIMENTO!
Encontre o problema
A questão aqui é saber o que faz ele ficar amedrontado e não o objeto. Você precisa saber realmente a ação que o perturba.
Por exemplo: Um cão pode ficar tranquilo quando ver um aspirador de pó, mas mudar completamente de comportamento quando você vir a ligar o aparelho. Descobrindo o gatilho do medo fica mais fácil de resolver o quebra cabeça.
Normalmente temos conhecimento do que ele está sentindo. Saiba os sinais que os cães nos transmitem quando estão temerosos no primeiro post da série “Entenda seu cachorro”.
Agora que que você sabe o que estimula o medo no seu animal de estimação ache uma maneira de recriar esse estímulo para que possas corrigir o temor na hora que achares mais conveniente.
Prepare o terreno
Depois de entender o quão importante é a energia que passamos a eles e descobrir qual verdadeiramente é gatilho que causa o distúrbio de emoção, podemos passar, enfim, para a parte prática.
Método 1
O melhor a se fazer nesses casos é dissimular o cão, colocar o objeto num lugar visível e o deixar “se acostumar com ele”. Se ele sentir medo é importante que você não demonstre reações de afeto ou preocupações! Mantenha-se firme, mas não pule etapas, recue o objeto até que se acalme.
Feche as portas para que ele não fuja durante a sessão.
Pegue seus melhores brinquedos e jogue perto do objeto, petiscos também valem. Se ele voltar seja firme e com ajuda de uma guia coloque-o novamente no local (não sinta pena, na psicologia animal, você como líder, está mostrando ao seu companheiro(a) que não há nada a temer nessa situação).
Espere que ele se acalme em posição preferencialmente deitada. – ensine a fazer seu cão deitar de um jeito simples – Não se preocupa com o tempo, demore o necessário. Dê os petiscos quando enxergares um cão calmo e submisso, nunca antes.
Depois de algumas sessões você pode começar a chegar mais perto do local, sempre repetindo os passos acima.
Método 2
Outra maneira muito inteligente de se fazer um cão perder o medo de objetos e pessoas é o do “evento não perceptível”. Para fazer entender vou lhes contar uma pequena historinha:
Era uma vez um pato que tinha medo de nadar. Dona coruja, a conselheira da floresta, percebeu que tal pato tinha esse medo no coração e ofereceu-se para ajudar. O pato meio relutante confiou na Dona coruja que lhe entregou um graveto. Ela disse – Esse graveto é mágico e com ele você se tronará um grande nadador. O pequeno pato, todo feliz, saiu correndo em direção a água segurando seu graveto mágico e brincou até cansar. Passados alguns dias o patinho, já dentro da água, percebeu que havia esquecido sua varinha mágica em casa naquele dia e que na realidade nunca precisou dela para nadar.
Vi essa fábula quando era criança e nunca vou me esquecer.
É exatamente isso que vamos fazer com o cachorro, tirando a parte que, quando ele realizar o fato de estar perto do objeto “assustador” ele não vai reagir de acordo com a fábula.
Prepare tudo como antes (porta fechada, guia no pescoço, brinquedos e petiscos) só que agora você vai precisar correr um pouco.
Sem ele ver o objeto brinque até quase cansar, vamos precisar de um pouco de energia depois. Continue brincando e vá aproximando o objeto perto dele e dando petiscos enquanto estiver calmo e submisso, nunca antes.
Se o medo for em um lugar específico é legal sair correndo sem direção e depois ao local que o cão apresenta o temor. Se ele travar procure voltar as brincadeiras e o jogo de correria para depois tentar novamente. Se ele conseguir chegar ao lugar e depois apresentar medo, fique firme em posição, espere ele se acalmar, e dê um petisco.
Esse método já foi apresentado por Cesar Millan, o encantador de cães, na sua primeira temporada e descrito num dos seus livros. Veja a citação
(…) Antes de mais nada, levei Kane para passear comigo, para criar um vínculo com ele e mostrar meu papel dominante. Quando tive certeza de que ele me via como líder, senti-me preparado para resolver sua fobia. Como Kane é um cão grande – pesa mais que eu! tive de fazê-lo correr para levá-lo até o local do acidente. Precisei tentar duas vezes, mas na segunda ele correu ao meu lado e estava sobre o piso antes de se dar conta do que estava acontecendo ou de como tinha chegado ali. No piso, ele reagiu como estava acostumado: entrou em pânico. Gemeu, se agitou – eu podia ver o terror em seus olhos. A diferença dessa vez fui eu. Não fiz nada além de segurá-lo com firmeza. Mantive minha postura firme, calma e não afetada pela reação dele. Não o confortei nem falei de modo doce, como Marina sempre fazia – tal comportamento só havia reforçado suas reações negativas. Em vez disso, fiquei sentado com ele enquanto ele revivia todas as velhas emoções – e vi o medo ir embora. Depois de dez minutos, ele estava relaxado o bastante para que eu pudesse caminhar ao seu lado no piso escorregadio. Ele caminhou ao meu lado, no início tremendo e inseguro, mas depois de alguns passos voltou a ser confiante. Mais uma vez me mantive calmo e assertivo. Não o tratei como um bebê. Ofereci-lhe a orientação de um líder forte de matilha e comuniquei-lhe, por meio de minha energia, que aquela era uma ação comum e que não havia nada a temer. Depois de vinte minutos, Kane estava caminhando com confiança no mesmo piso que temera por mais de um ano.
O Encantador de Cães – Compreenda o melhor amigo do homem
Como podemos ver na citação acima a energia e a paciência que o Cesar Millan transmitiu a Kane foi determinante para sua recuperação. Em nenhum momento vimos ele sentir pena do cão por reviver suas trágicas emoções. Muito pelo contrário vimos que ele se mostrou frio e consciente que Kane iria melhorar seu estado de agitação.
Reabilitar cães com medo não é tarefa fácil, principalmente para os amantes incondicionais. Todavia para se ter um cachorro equilibrado é preciso usar sua liderança. No mais nunca confunda liderança com gritaria. Para ser líder, você precisa ter firmeza, porem nunca violento. Em caso de cachorros de grande porte procure ajuda profissional.
Sobre outros medos
Claro que eu sei que o muita gente irá pensar: “post foi feito pensando só em objetos.” Sim e não, o post tem como exemplificação cachorros com medo de objetos e lugares escorregadios, mas, os métodos podem ser usados para outros tipos de medos.
Digo que 90% da resolução do problema tá aí. Agora, se você quiser os outros 10%, descreva o problema nos comentários aí em baixo que eu terei o prazer de responder. Isso vale para dúvidas sugestões e reclamações ok?
Um grande Abraço
Eu sou Gabriel, tenho 28 anos e sou veterinário. Eu adoro animais e vivo no interior de São Paulo. Meu objetivo é compartilhar conhecimentos sobre animais com as pessoas que se interessam por eles.